Aniversário
204 anos, sem tirar os olhos do futuro
Pelotas celebra seu aniversário abrindo espaço para a discussão sobre a sustentabilidade, tema que irá, inevitavelmente, pautar os próximos capítulos da sua história
Os debates sobre sustentabilidade são recentes. Recentes e urgentes. Discutem, como o próprio conceito implica, uma maneira de suprir as necessidades do presente sem impossibilitar a capacidade das próximas gerações de suprirem as suas. Um desafio que envolve o social, o econômico e o ambiental e está lançado a cidades, estados e países de todos os cantos do mundo. Um desafio recente e urgente. Não é a toa que Pelotas escolheu o tema para associar, pela primeira vez, a semana do seu aniversário. A Princesa, que nesta quinta-feira (7) completa 204 anos, abre espaço nas comemorações de sua história para falar em preservar, economizar, reaproveitar, educar e reciclar. Conceitos que, postos em prática, poderão contribuir na construção de um amanhã sustentável dentro de uma Pelotas sustentável.
Para chegar até lá, a caminhada ainda é longa. Os desafios, incontáveis. Englobam problemas que passam pela responsabilidade de cada pelotense, das entidades e instituições, do Poder Público. Segundo a professora do curso de Ecologia e presidente da Comissão do Plano de Gerenciamento de Resíduos da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Carina Estrela, é difícil até mesmo escolher algum ponto que constitua o entrave central relativo a uma cidade mais sustentável, pois há vários. "Estamos em uma região muito irrigada, com recursos ímpares. Precisamos atentar para as áreas de banhado, para o tratamento de esgoto, para os corpos hídricos, para os resíduos sólidos, para nosso comportamento dentro de casa. A responsabilidade é de todos e é necessária em tudo."
Quanto à separação de resíduos sólidos, por exemplo, a ecóloga considera que se precisa avançar muito, partindo principalmente da conscientização das famílias em separarem o lixo corretamente dentro de casa. O tratamento de esgoto também avalia como defasado, o que leva à poluição de rios e canais e pode, até mesmo, causar doenças na população. O mau aproveitamento dos canais de macrodrenagem pelotenses, onde são feitas ligações irregulares de esgoto, são também centrais quando se discute uma cidade sustentável, já que eles deveriam absorver a água das chuvas e evitar as comuns situações de alagamento. "Falta percepção das pessoas, faltam políticas públicas. Falta, principalmente, acabar com a ideia de que alguém, em algum momento aparecerá com a solução. É com cada um fazendo um pouco, que teremos um resultado em breve."
Quem faz
Há, claro, exceções. Nem tudo são problemas, nem tudo é inércia. Há gente fazendo e, aos poucos, contribuindo para a mudança de hábito que implicará em uma mudança social. Mudança esta que passa, inevitavelmente pela educação. A professora Iara Devantier trabalha com esta ideia. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Francisco de Campos Barreto e na Escola Estadual de Ensino Médio Edmar Fetter, ambas no Laranjal, a professora de ciências aplica aulas e oficinas voltadas à reciclagem desde 2005, reaproveitando material para confecção de peças de decoração, de utilização da escola e mesmo de venda em feiras para a compra de materiais que possam dar continuidade às atividades. A partir da quinta série os pequenos já têm acesso a uma nova visão sobre o lixo. Antes das aulas de Iara, o estudante Marlon Veiga, de 15 anos, conta que não pensava na separação do resíduo, muito menos na possibilidade de aproveitamento dele para outras coisas. Hoje, já contribui até mesmo levando as caixas de leite, latas e garrafas PET para ver a mágica do reaproveitamento acontecer. Nas mãos da pequena Emili da Silva, de dez anos, ganham vida através de jornal, papelão e muita criatividade porta-lápis, guarda-objetos e outras peças que já tem destino certo: presentes para os pais, avós e tios. Uma visão que vai, aos poucos, se tornando corriqueira para os alunos, que levam para dentro de casa e assim por diante, afirma a professora.
Para Carina, ações como a desenvolvida por Iara são essenciais. Medidas como a utilização de energia solar, eólica e aproveitamento de água da chuva, pelo alto custo de investimento, ainda estão distantes de uma grande parcela da população, mas não significam que nada pode ser feito. "Com a educação e, aos poucos, a mudança de hábito, é possível fazer muito, mesmo com poucos recursos. O que não pode acontecer é pararmos de falar sobre o tema e, por este quesito, Pelotas está de parabéns devido à escolha feita no seu aniversário."
Conheça mais algumas iniciativas que existem em Pelotas
Associação Bem da Terra:
Comercializa produtos de empreendimentos de economia solidária. Trabalha, por exemplo, com a utilização do resíduo do óleo de cozinha para a produção de sabão.
Núcleo de Economia Solidária e Incubação de cooperativas da UCPel:
Projetos com cooperativas de catadores, que trabalham com material reciclável.
Capa - Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia - Núcleo Pelotas
Trabalho de incentivo e comercialização de produtos cultivados através do conceito de agricultura ecológica
Falando em resíduos
Pelotas produz mais de 4 mil toneladas mensais de lixo orgânico. A coleta seletiva recolhe cerca de 115 toneladas de lixo que é distribuído entre as 5 cooperativas que atuam na cidade
Como contribuir para uma cidade mais sustentável?
- Não misture recicláveis com orgânicos - sobras de alimentos, cascas de frutas e legumes. Coloque plásticos, vidros, metais e papéis em sacos separados.
- Lave as embalagens do tipo longa vida, latas, garrafas e frascos de vidro e plástico. Seque-os antes de depositar nos coletores.
- Papéis devem estar secos. Podem ser dobrados, mas não amassados.
- Embrulhe vidros quebrados e outros materiais cortantes em papel grosso (do tipo jornal) ou colocados em uma caixa para evitar acidentes. Garrafas e frascos não devem ser misturados com os vidros planos.
- Nas compras, prefira embalagens mais simples. Mas, se não tiver opção, desmonte-a separando as partes de metal, plástico e vidro e deposite-as nos coletores apropriados. No caso de cartelas de comprimidos, é difícil desgrudar o plástico do papel metalizado, então descarte-as junto com os plásticos. Faça o mesmo com bandejas de isopor, que viram matéria-prima para blocos da construção civil.
- Não lave calçadas com água potável.
- Mantenha uma área verde dentro de casa ou próxima à residência, ela é um importante meio de drenagem de água.
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